Estranhamente, naquela noite eu
havia chegado a casa com uma estranha e mórbida vontade de escrever. A caneca antes
cheia de um líquido que eu já nem lembro se era café ou leite com chocolate em
pó havia falhado em me trazer inspiração. Já estava vazia. A tela do computador
me encarava com sua luz azulada rotineira e minha mente continuava mais vazia
do que nunca.
“Quem sabe um cigarro...” pensei,
colocando um na boca depois de mais de um ano. Foi até confortável constatar
que ainda tenho nojo daquilo. Mesmo assim, continuei fumando e apanhei uma taça
do meu melhor vinho. Tomei dois goles parado na porta. A tela do computador
continuava me encarando, como se dissesse: “Me olha! Me olha! Me olha! Me
olha!” e o teclado parecia fazer um leve barulhinho, me chamando: “Me tecla! Me
tecla! Me tecla! Me tecla!”
Mais uma tragada e mais um gole,
quando tomei um susto absurdo ao olhar para o vidro da janela. O rosto pálido
de um homem careca de pele muito branca e muitas olheiras ao redor dos olhos
verdes. A taça de vinho despencou ao chão e se despedaçou em dezenas de pedaços
enquanto a cor vermelha banhava o meu chão como se fossem marcas de sangue. O
cigarro continuava preso entre meus dedos.
O homem abriu a janela de vidro e
passou pelo meio das barras como se elas simplesmente não existissem. Na hora
pude ver que usava uma espécie de casaco sobretudo preto por cima de uma camisa
branca e uma calça jeans azul muito escuro. Ele baixou o capuz que tinha na
cabeça e me encarou, falando:
- Ufa! E esse frio hein?
Ele
se sentou na minha cadeira de computador e botou os pés em cima da
escrivaninha. Imediatamente a tela começou a ter interferência e as luzes azuis
do gabinete começaram a piscar. Ele tirou o cigarro mais esquisito que eu já vi
na vida, marrom e com manchas amarelo claro e apanhou meu isqueiro, usando ele
pra acender. A fumaça daquele fumo tinha cheiro de essência pra banheiro.
- Não quero parecer grosseiro...
Mas... Quem... É você? – perguntei, completamente assustado, quase a ponto de
me borrar.
- Meu Deus, olha a merda que tu fez
no chão! – disse o homem careca, apontando para os cacos de vidro. – Vai te dar
trabalho limpar isso.
-
Quem... – repeti, devagar, com meu humor começando a mudar, junto com o tom de
voz. – Quem é você, e o que faz no meu quarto?
- Ah, bem. Azar o teu, vai ter que
limpar depois...
- Quem é tu, PORRA?
Ele riu da minha raiva.
-
Ah, babaca. Ainda não reparou...
- FALA LOGO!
- Sou sua consciência, seu idiota! –
gritou ele, em um tom um pouco mais baixo que o meu, se levantando.
- Eu tenho uma consciência? –
perguntei, não acreditando muito naquela pegadinha.
- Agora tem. Acabou ganhando esse
privilegio.
- Privilegio?
- Digamos que... É um pouco caro
manter uma consciência... Há despesas de transportes, alimentação e todo o
resto. Então liberamos esse tratamento somente para os nossos “clientes mais
especiais”... – o homem careca começou a brincar com as pás do ventilador.
Eu comecei a rir. O homem continuava
distraído enquanto fumava seu cigarro.
- Essa é a coisa mais idiota que eu
já ouvi... – eu disse. – Porque diabos eu mereceria ter uma consciência e por
que ela seria um cara branquelo e careca? Onde estão os anjinhos e diabinhos?
- Bem, às vezes as consciências são
parecidas com seus clientes. Mas o seu caso era mais grave. Daí tiveram que
mandar um mais experiente.
Eu imitei o gesto dele e traguei o
cigarro.
- Então você é uma consciência
experiente? – eu disse.
- Pode-se dizer que sou uma das
melhores... – ele inflou o peito ao falar isso.
- Bem, isso não vem ao caso. Afinal,
se essa história é verdade, quem mandou você e por que?
- Bem, digamos que... Nossos outros
empregados já não são suficientemente bons pra te manter sob controle.
- Empregados?
- É. Chamamos o setor de Remorso.
Mas por alguma razão você parece imune ao controle da mente que eles possuem...
-
Pelo Amor de Deus! Eu sou livre e sei muito bem o que faço...
- Não diga o nome em vão. Vocês
humanos tem uma ideia muito estúpida do que é Deus. Sem falar nesse nome...
Além disso, é exatamente essa liberdade que nos preocupa...
- Por que? Eu já disse que sei o que
estou fazendo...
- Ah claro... Tanto que você nem
lembrou que vinho não combina muito bem com seu estomago não é?
Os olhos dele brilharam por uma
fração de segundo e eu fui acometido por uma terrível ânsia de vomito
incontrolável. Imediatamente corri ao banheiro e vomitei tudo que havia comido
no dia. Cambaleante, caminhei de volta ao quarto, onde o homem careca
continuava fumando, escorado na janela de braços cruzados.
- Eu não sei como fez isso... – eu
disse, apontando o dedo indicador pra cara dele. – Mas não foi nada
divertido...
- Que bom que pensa isso, rapaz,
porque eu não estou aqui pra brincadeira. Tenho a missão de por um pouco de
juízo nessa tua cachola vazia e eu não costumo falhar nas minhas missões.
Mas... Bah... Tu vai ser um caso bem difícil.
- Então é melhor abortar. Esse cara
aqui é livre pra pensar o que quer!
- CUIDADO GURI! – ele gritou,
sumindo e reaparecendo na minha frente. – Não subestime meus poderes e nem o
que eu posso fazer! Saiba que já dei ótimos castigos até cumprir meu dever! To
tentando te ajudar! Não me force a fazer o que fiz ao Bill Clinton!
- O que você fez ao Clinton? – eu
perguntei, com uma das mãos na barriga.
- Nem queira saber... – ele disse,
segurando meu lápis, que um segundo depois murchava como se fosse feito de
borracha. Eu entendi na mesma hora.
- Ta legal... – eu disse. – Pode tentar
fazer seu trabalho. Mas tu não vai me impedir de viver o que eu quero do jeito
que eu quero!
Outra risada.
- Você humanos são todos iguais...
E socou com toda a força o meio do
meu peito. Apesar da pressão eu não senti dor, e antes de cair na cama eu já
estava nela, me erguendo e olhando para os lados. A janela estava aberta e o
Sol estava nascendo. Até agora não sei se eu estava sonhando ou não. Mas,
naquele momento, cheguei a uma conclusão inegável:
- Puta que pariu! Minha consciência
é um pé no saco!
E ai, digníssimos leitores... O que vocês acharam? Acham que merece continuação? Lembrem-se que a opinião de vocês vale mais do que qualquer cerveja importada... Ao menos comentem se curtiram ou não. Por favor! XD
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEsse marlboro e o vinho logo de cara deram uma água na boca...
ResponderExcluirbah tua consciênia é mais chata que minha mãe
mais chata que um psicanalista disfarçado hein
cara a ideia ta massa, mas achei que faltou um pouco de originalidade.
é só minha humilde opinião, bjs.