sexta-feira, 18 de maio de 2012

Eu e Minha Consciência - Prólogo



            Estranhamente, naquela noite eu havia chegado a casa com uma estranha e mórbida vontade de escrever. A caneca antes cheia de um líquido que eu já nem lembro se era café ou leite com chocolate em pó havia falhado em me trazer inspiração. Já estava vazia. A tela do computador me encarava com sua luz azulada rotineira e minha mente continuava mais vazia do que nunca.
            “Quem sabe um cigarro...” pensei, colocando um na boca depois de mais de um ano. Foi até confortável constatar que ainda tenho nojo daquilo. Mesmo assim, continuei fumando e apanhei uma taça do meu melhor vinho. Tomei dois goles parado na porta. A tela do computador continuava me encarando, como se dissesse: “Me olha! Me olha! Me olha! Me olha!” e o teclado parecia fazer um leve barulhinho, me chamando: “Me tecla! Me tecla! Me tecla! Me tecla!”
            Mais uma tragada e mais um gole, quando tomei um susto absurdo ao olhar para o vidro da janela. O rosto pálido de um homem careca de pele muito branca e muitas olheiras ao redor dos olhos verdes. A taça de vinho despencou ao chão e se despedaçou em dezenas de pedaços enquanto a cor vermelha banhava o meu chão como se fossem marcas de sangue. O cigarro continuava preso entre meus dedos.
         O homem abriu a janela de vidro e passou pelo meio das barras como se elas simplesmente não existissem. Na hora pude ver que usava uma espécie de casaco sobretudo preto por cima de uma camisa branca e uma calça jeans azul muito escuro. Ele baixou o capuz que tinha na cabeça e me encarou, falando:
            - Ufa! E esse frio hein?
Ele se sentou na minha cadeira de computador e botou os pés em cima da escrivaninha. Imediatamente a tela começou a ter interferência e as luzes azuis do gabinete começaram a piscar. Ele tirou o cigarro mais esquisito que eu já vi na vida, marrom e com manchas amarelo claro e apanhou meu isqueiro, usando ele pra acender. A fumaça daquele fumo tinha cheiro de essência pra banheiro.
        - Não quero parecer grosseiro... Mas... Quem... É você? – perguntei, completamente assustado, quase a ponto de me borrar.
           - Meu Deus, olha a merda que tu fez no chão! – disse o homem careca, apontando para os cacos de vidro. – Vai te dar trabalho limpar isso.
          - Quem... – repeti, devagar, com meu humor começando a mudar, junto com o tom de voz. – Quem é você, e o que faz no meu quarto?
            - Ah, bem. Azar o teu, vai ter que limpar depois...
            - Quem é tu, PORRA?
            Ele riu da minha raiva.
- Ah, babaca. Ainda não reparou...
            - FALA LOGO!
            - Sou sua consciência, seu idiota! – gritou ele, em um tom um pouco mais baixo que o meu, se levantando.
            - Eu tenho uma consciência? – perguntei, não acreditando muito naquela pegadinha.
            - Agora tem. Acabou ganhando esse privilegio.
            - Privilegio?
            - Digamos que... É um pouco caro manter uma consciência... Há despesas de transportes, alimentação e todo o resto. Então liberamos esse tratamento somente para os nossos “clientes mais especiais”... – o homem careca começou a brincar com as pás do ventilador.
            Eu comecei a rir. O homem continuava distraído enquanto fumava seu cigarro.
            - Essa é a coisa mais idiota que eu já ouvi... – eu disse. – Porque diabos eu mereceria ter uma consciência e por que ela seria um cara branquelo e careca? Onde estão os anjinhos e diabinhos?
           - Bem, às vezes as consciências são parecidas com seus clientes. Mas o seu caso era mais grave. Daí tiveram que mandar um mais experiente.
            Eu imitei o gesto dele e traguei o cigarro.
            - Então você é uma consciência experiente? – eu disse.
            - Pode-se dizer que sou uma das melhores... – ele inflou o peito ao falar isso.
            - Bem, isso não vem ao caso. Afinal, se essa história é verdade, quem mandou você e por que?
           - Bem, digamos que... Nossos outros empregados já não são suficientemente bons pra te manter sob controle.
            - Empregados?
        - É. Chamamos o setor de Remorso. Mas por alguma razão você parece imune ao controle da mente que eles possuem...
          - Pelo Amor de Deus! Eu sou livre e sei muito bem o que faço...
     - Não diga o nome em vão. Vocês humanos tem uma ideia muito estúpida do que é Deus. Sem falar nesse nome... Além disso, é exatamente essa liberdade que nos preocupa...
      - Por que? Eu já disse que sei o que estou fazendo...
        - Ah claro... Tanto que você nem lembrou que vinho não combina muito bem com seu estomago não é?
          Os olhos dele brilharam por uma fração de segundo e eu fui acometido por uma terrível ânsia de vomito incontrolável. Imediatamente corri ao banheiro e vomitei tudo que havia comido no dia. Cambaleante, caminhei de volta ao quarto, onde o homem careca continuava fumando, escorado na janela de braços cruzados.
           - Eu não sei como fez isso... – eu disse, apontando o dedo indicador pra cara dele. – Mas não foi nada divertido...
           - Que bom que pensa isso, rapaz, porque eu não estou aqui pra brincadeira. Tenho a missão de por um pouco de juízo nessa tua cachola vazia e eu não costumo falhar nas minhas missões. Mas... Bah... Tu vai ser um caso bem difícil.
             - Então é melhor abortar. Esse cara aqui é livre pra pensar o que quer!
       - CUIDADO GURI! – ele gritou, sumindo e reaparecendo na minha frente. – Não subestime meus poderes e nem o que eu posso fazer! Saiba que já dei ótimos castigos até cumprir meu dever! To tentando te ajudar! Não me force a fazer o que fiz ao Bill Clinton!
            - O que você fez ao Clinton? – eu perguntei, com uma das mãos na barriga.
       - Nem queira saber... – ele disse, segurando meu lápis, que um segundo depois murchava como se fosse feito de borracha. Eu entendi na mesma hora.
            - Ta legal... – eu disse. – Pode tentar fazer seu trabalho. Mas tu não vai me impedir de viver o que eu quero do jeito que eu quero!
            Outra risada.
            - Você humanos são todos iguais...
            E socou com toda a força o meio do meu peito. Apesar da pressão eu não senti dor, e antes de cair na cama eu já estava nela, me erguendo e olhando para os lados. A janela estava aberta e o Sol estava nascendo. Até agora não sei se eu estava sonhando ou não. Mas, naquele momento, cheguei a uma conclusão inegável:
            - Puta que pariu! Minha consciência é um pé no saco!


          E ai, digníssimos leitores... O que vocês acharam? Acham que merece continuação? Lembrem-se que a opinião de vocês vale mais do que qualquer cerveja importada... Ao menos comentem se curtiram ou não. Por favor! XD

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Esse marlboro e o vinho logo de cara deram uma água na boca...
    bah tua consciênia é mais chata que minha mãe
    mais chata que um psicanalista disfarçado hein
    cara a ideia ta massa, mas achei que faltou um pouco de originalidade.
    é só minha humilde opinião, bjs.

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