segunda-feira, 2 de abril de 2012

O Homem

         


             A lembrança mais antiga que tenho dele me remete a uma infância tranquila, provavelmente la pelos meus três anos, quando ele passava o dia cuidando de mim no apartamento o qual me lembro de cada minusculo detalhe. Também lembranças esquisitas na época, como vê-lo correndo pelo corredor do hospital com a minha mãe, que entrava em trabalho de parto no nascimento do meu irmão.
                   Os primeiros fios brancos brotaram em sua cabeça e barba quando eu tinha uns oito anos. Porém, tampouco eu reparava isso. Além disso, salvo as semanas encostado devido a uma cirurgia no pé, ele continuava ativo e até hoje não acho possível afirmar que ele está envelhecendo. Ao contrário, foram tornando-se mais comuns as caminhadas de domingo, as tardes de natação e, após um golpe do estresse, a academia tomou o lugar de um dos empregos.
                  Aliás, essa foi uma luta que ele sempre esteve na frente, de peito aberto, pronto a suar a camisa em qualquer jeito que fosse possível, só para poder construir a vida que sonhou pra mim, minha mãe e meu irmão, chegando ao ponto limite, trabalhando quase 16 horas por dia, até se estabilizar em um deles e abandonar a emissora de TV onde trabalhou durante quase vinte anos em diversos setores e onde, em pelo menos durante a metade desse tempo, foi explorado.
                     Muitas escolhas minhas estão diretamente relacionadas com ele. Os bons anos de infância em que me levava ao trabalho na emissora, meu primeiro contato com esse mundo de informação que tanto me cativa e me atrai, tudo graças a ele, algo que mais do que pequenas diversão, virou reflexo agora, no início da minha construção de uma carreira profissional.
                  Me buscar nas festas, me dar presentes, conseguir dinheiro, porém, mais do que isso, o que mais conta pra mim foram as nossas conversas. Desde o principio em ajuda no colégio, até a minha fatídica decisão de fazer faculdade e posteriormente o curso de jornalismo.
                     Hoje, com o seu cabelo já agradavelmente prateado, um dos melhores momentos do dia se tornou chegar em casa, abrir uma cerveja, e passar agradáveis minutos, às vezes horas, em uma gostosa e produtiva conversa. Às vezes, ele me olha com orgulho ao me ver passar no vestibular, tirar a carteira de motorista ou arrumar um emprego. Porém, nisso, ele está enganado. Afinal, quem deve se orgulhar sou eu, pois sei que nem todos possuem a mesma sorte que eu, e não é a toa que vou atrás dos meus ideias. 
                 Foi porque tive um ótimo professor. Sem ele, nada disso seria possível. Nada disso seria pensado. E é por essas e outras razões que eu só tenho a dizer um enorme Muito Obrigado! Afinal, não seria um reles cabelo branco que o desanimaria em sua luta.


                Feliz Aniversário Pai! Eu te amo...


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